Você é uma pessoa tímida? Tem certeza? Eu até ontem tinha certeza de que era tímido, mas eu descobri que não sou. Pode ser o seu caso.
Publiquei um outro artigo falando sobre timidez, e esse artigo foi baseado nos meus estudos sobre comunicação, comportamento e mudança de mindset, que são meus alvos maiores de interesse.
Deixa eu te contar sobre a minha situação e experiência, pode ser a mesma que você vive. Hoje eu sou palestrante, professor, ator, músico, um monte de coisas que dependem de falar para públicos, plateias, estar no palco e no centro das atenções. Se você se considera uma pessoa tímida, só de ouvir “estar no centro das atenções” já te deu um frio na barriga. Sei como é. Acredite.
Sim, é isso mesmo. Porque mesmo com todas estas atividades relacionadas a me expor, a estar na frente das pessoas, eu sempre me considerei um cara tímido. E toda vez que eu falava isso eu tinha que aguentar gente duvidando, rindo, achando que eu estava querendo chamar atenção. E eu vou te contar porque eu me considerava tímido.
Eu estou com mais de 50 anos de idade, e no meu tempo de moleque pré adolescente existiam as festinhas nas garagens e nas escolas, com a turma. Nessas festas dos anos 70 e 80 existia uma espécie de hierarquia, ou programação não combinada. Funcionava assim. Todo mundo levava alguma coisa, normalmente os meninos levavam as bebidas e as meninas levavam as comidas. Então a hora da chegada na festinha era hora de comer e beber, e estou falando de refrigerante. Éramos guris ainda.
Enquanto isso sempre estava tocando alguma música mais agitada. Os anos 80 foram cheios de boas bandas de rock, então nessa hora a gente dançava para agitar, começar a trocar os olhares e iniciar as paqueras. Daí então depois de um tempo vinham as músicas lentas, e depois das músicas lentas vinha o reggae. Deixa eu explicar de trás pra frente, o reggae surgia no fim da festa porque tudo que tinha que acontecer já tinha acontecido, então a música era mais relaxante e descontraída.
E o que tinha que acontecer? Primeiro comer salgadinhos e tomar refrigerante. E depois o principal da festa para aqueles corpos cheios de hormônios: paquera, rolo, namoro, pegação. Hoje fala pegação, né? Troço feio. Hoje o povo fala que está pegando alguém. A gente era mais romântico, a gente falava que estava “garrando” alguém. Muito mais romântico! “Tô garran”… rs
Enfim, na hora da música lenta era a hora de chamar pra dançar aquela menina que você já estava paquerando no recreio da escola. E era nessa hora que eu não conseguia. Eu nunca tive coragem de chamar uma menina para dançar música lenta nessas festinhas. Travava. E eu sempre considerei que se dependesse dessa minha desenvoltura nas festinhas da escola, ia morrer virgem.
Me rotulei então de tímido. Mas o conhecimento é algo libertador realmente, e eu aprendi que não sou tímido. Na verdade, eu sou introvertido. Apesar de brincalhão, muito bem humorado, gostar de conversar com todo mundo, eu sou introvertido. Vamos fatiar o gorila pra entender melhor.
A diferença entre o tímido e o introvertido é a forma como ele lida com o contato. O introvertido não tem problema com o contato, mas ele é muito seletivo e, na maioria das vezes, prefere não estabelecer contato. Seletivo porque não é toda hora que ele quer contato, e nesse ponto a humanidade deve ser toda assim. Mas principalmente porque, também na maioria das vezes, o introvertido prefere ficar sozinho a estar com outras pessoas. Por exemplo, eu sempre preferi ficar com meus livros e discos a estar em uma festa gigantesca cheia de gente desconhecida. O extrovertido vê uma festa dessas como um monte de oportunidades, de novas amizades, romances e até negócios. O introvertido até vê essas possibilidades e oportunidades, mas nem sempre faz essa escolha.
O introvertido faz novos relacionamentos e contatos, mas se diverte e se gratifica muito mais com conversas longas com gente que ele gosta e respeita. O extrovertido já adora conhecer mais e mais pessoas, o que não é o caso do introvertido.
O tímido é diferente. O que é uma escolha para o introvertido, é uma limitação para o tímido. O introvertido prefere não ter contato, o tímido se sente desconfortável com o contato. O introvertido prefere não sair para a balada, o tímido se angustia em ter que sair, não consegue fazer isso.
Isso porque o foco é diferente. Normalmente o introvertido tem o foco para si, e tem um mundo interior rico, variado, porque alimentado com pensamentos, criações próprias, leitura muitas vezes. O tímido tem o foco para o outro, e se preocupa com o que vão dizer ou pensar a seu respeito. E isso gera angústia. O tímido tem medo do julgamento do outro, sempre acreditando que vai ser depreciativo, que nunca vai estar à altura.
Os dois possuem mais facilidade para vivenciarem situações de angústia ou pânico, porque isso pode ser alimentado e crescer além da conta. Por isso é importante não se esconder em sua caverna e buscar socialização. Para o introvertido isso é importante para ele poder ver outros universos e evitar o risco de se limitar. E para o tímido para buscar superar o desconforto. Eu trabalho com oratória em cursos e mentorias, para pessoas que buscam vencer o medo de falar em público, que é um medo super comum, um dos mais comuns. E falando sobre esse medo existem os sintomas que as pessoas sentem ao falar em público. As mãos frias e a taquicardia, por exemplo, são alguns dos mais citados, e as pessoas por sentirem isso se consideram tímidas. O que é um engano, porque esses sintomas são sentidos por – praticamente – todas as pessoas, são reações químicas e comportamentais à exposição pública. Normais, portanto.
Então agora para e pensa: você é uma pessoa tímida ou introvertida? Me diz aqui nos comentários abaixo o que você acredita que é, e porque você acredita isso. vamos conversar, eu adoro esse tema e vai ser muito legal ver o que vocês também vivem, sabem e pensam. Afinal de contas se o introvertido e o tímido precisam se socializar mais, que tal nós introvertidos e tímidos do mundo aproveitarmos esse canal de comunicação aqui e trocar as nossas experiências.
Vai ser legal! Falei? Falei! Até a próxima!
Há braços!
Eduardo Mesquita